Mosca-branca da soja: saiba como controlar todas as fases dessa praga
Devido aos prejuízos que causa aos cultivares, os produtores devem fazer um controle eficaz da praga, já que erros no manejo podem ter efeitos contrários ao esperado, aumentando a população do inseto na região. Nos casos mais graves, se o combate não for eficiente, pode haver a necessidade de abandonar a área de cultivo.
Mas o que é a mosca-branca, quais são os males causados por ela e como controlar o inseto na cultura da soja? Continue conosco e entenda!
O que é a mosca-branca da soja?
Apesar de ser popularmente chamada de mosca, a mosca-branca é um inseto da ordem Hemiptera, ou seja, faz parte do grupo das cigarrinhas e dos percevejos. É fundamental saber da biologia das espécies, pois as diferenças nas suas peças bucais, no seu ciclo de vida e no seu comportamento explicam os danos que elas causam às culturas. Além disso, essas informações ditam as diretrizes do manejo correto da praga.
O seu nome científico é Bemisia tabaci, porém, um estudo publicado em 2011 concluiu que a mosca-branca é um complexo de espécies que contém, pelo menos, 24 biótipos morfologicamente indistinguíveis. Atualmente, acredita-se que haja mais de 40 biótipos, cuja separação necessita de marcadores moleculares.
O primeiro registro desse inseto foi feito em plantas de fumo (daí o nome “tabaci”), em 1889, na Grécia. A espécie foi introduzida no Brasil em 1920, disseminando-se rapidamente. Hoje, é cosmopolita, ocorrendo em todo o mundo, apesar de se desenvolver melhor em climas quentes e úmidos.
Os adultos da mosca-branca da soja são diminutos (0,8 mm de comprimento), têm asas brancas e o corpo amarelo. Quando as condições ambientais são favoráveis, o ciclo de vida vai de 2 a 4 semanas, sendo que a temperatura é o fator externo que mais influencia essa variação.
Elas, normalmente, são encontradas na face inferior das folhas de soja, onde, inclusive, depositam seus ovos. Cada fêmea produz entre 150 e 300 ovos e pode originar até 15 gerações por ano.
Os juvenis, chamados de ninfas, têm coloração verde-amarelado e são caracterizados por não apresentarem franjas ao redor do corpo. Esses insetos passam por quatro ínstares antes de chegarem à fase adulta, sendo que apenas no primeiro apresentam pernas, que permitem que se desloquem até o local mais adequado da planta para, então, fixarem-se.
Na passagem para o segundo estágio, as ninfas perdem as pernas e permanecem imóveis até que os adultos emerjam. É possível vê-las com facilidade, e elas se parecem com cochonilhas.
Quais danos ela causa à lavoura?
A mosca-branca da soja causa danos diretos e indiretos à lavoura, reduzindo a qualidade dos frutos e a produtividade da planta como um todo.
Os estragos diretos estão relacionados à sucção da seiva dos grãos da soja, o que provoca o amadurecimento irregular. É possível observar esse sintoma pela descoloração dos frutos, causada pela toxina liberada durante a sucção.
Na parte vegetativa, esses insetos extraem aminoácidos e carboidratos, o que resulta em folhas cloróticas (coloração verde pálido ou amarelada), murcha e queda. As plantas definham e têm o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo comprometido.
Já os danos indiretos podem ser ainda mais desastrosos, já que a inserção das peças bucais do inseto deixa uma porta aberta para a entrada de patógenos. Ao se alimentarem da seiva, as moscas-brancas também transmitem diversos vírus que causam graves prejuízos às culturas agrícolas.
Porém, o dano mais significativo se dá na excreção da mosca-branca. Durante a sucção, elas expelem um exsudato açucarado (chamado de honeydew, em inglês) que cobre as folhas, deixando-as propícias para o desenvolvimento da fumagina. Esse fungo negro cresce sobre as folhas, escurecendo-as e impedindo que a planta realize fotossíntese.
Outra consequência da fumagina é que a cor preta absorve mais radiação solar, o que ocasiona a queima e a queda das folhas da cultura. O saldo de prejuízo vai depender da severidade do ataque e da idade das plantas.
Como combater e prevenir a sua ocorrência?
Por enquanto, não existem cultivares de soja que sejam resistentes ou, pelo menos, tolerantes à mosca-branca. Por isso, o sucesso do controle desse inseto depende diretamente, em primeiro lugar, do reconhecimento da praga; então, da adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP-soja).
Tal método tem como princípio a redução do uso exagerado de inseticidas, especialmente os que têm ação de largo espectro. Esse ponto é de suma importância, pois a mosca-branca tem diversos inimigos naturais, e o uso de produtos de amplo espectro elimina da lavoura esses agentes do controle biológico. Como consequência, há uma maior infestação da praga.
Isso significa que as aplicações preventivas e contínuas podem favorecer a seleção de moscas-brancas resistentes aos produtos fitossanitários, elevando a população desse inseto. Dessa forma, uma das principais táticas de manejo é a rotação de inseticidas para soja por modo de ação.
Ou seja, é imprescindível que os técnicos e produtores conheçam os produtos e criem um programa de rotação, dando preferência a defensivos agrícolas seletivos, que não eliminem os predadores naturais da mosca-branca da soja. Até agora, já foram identificadas 16 espécies, entre hemípteros, neurópteros, coleópteros e dípteros.
Ainda há outras 37 espécies de parasitoides e, pelo menos, quatro fungos entomopatógenos que, em conjunto aos defensivos agrícolas aplicados, conseguem controlar a população da praga na lavoura. Além dessas ações, é essencial remover outras plantas hospedeiras, tanto nas áreas de cultivo como no seu entorno.
As ações de MIP-soja são fundamentais nas lavouras brasileiras, pois há registro de ocorrência do biótipo Q de mosca-branca, que apresenta elevada capacidade de desenvolver resistência a grande parte dos produtos eficazes contra tal inseto. Em termos gerais, podemos destacar e resumir as seguintes medidas:
- remover plantas hospedeiras dentro da lavoura e nas áreas vizinhas;
- realizar um levantamento da praga no campo;
- utilizar apenas inseticidas seletivos, visando à manutenção dos inimigos naturais;
- fazer a rotação de defensivos agrícolas com base no seu modo de ação;
- destruir os resíduos da cultura;
- evitar o plantio de culturas que sejam muito atrativas à mosca-branca.
Como você pôde perceber, a ocorrência da mosca-branca da soja é um problema sistêmico no Brasil, que causa severos prejuízos à atividade e aos setores ligados à agropecuária. Por isso, é necessária uma ação conjunta de produtores rurais e instituições de pesquisa para que se faça o uso sustentável dos defensivos agrícolas.